O Brasil é historicamente marcado por profundas desigualdades raciais, refletidas de forma estrutural no ambiente corporativo. Embora políticas públicas, como a Lei de Cotas, tenham avançado na promoção da inclusão de pessoas negras nas universidades e no serviço público, as empresas privadas ainda enfrentam desafios para romper vieses inconscientes e afirmar a necessidade de equidade nas práticas de recrutamento e promoção. Como consequência, ainda temos na grande maioria das organizações brasileiras pouca diversidade racial e falta de representatividade negra nas posições de liderança.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pessoas pretas e pardas representam aproximadamente 56% da população brasileira, mas ocupam apenas 30% dos cargos gerenciais. Esse abismo reflete uma hierarquia racial que coloca os negros em cargos majoritariamente operacionais, limitando seu acesso ao poder de tomada de decisões dentro das corporações. Enquanto não nos enxergarmos como parte da estrutura racista, não conseguiremos avançar nas mudanças urgentes e sistêmicas que precisam acontecer para alcançarmos um país socialmente justo e próspero.
Essa foi a jornada da Embracon, um processo de reconhecimento das práticas que reproduzem as hierarquias raciais vigentes e a implementação de ações para romper com essas estruturas. Nossas vagas afirmativas trouxeram um caminho sem volta de letramento racial, e como resultado 70% dos analistas contratados em 2024 foram talentos negros. Criado em 2024, o grupo de afinidade EmbraVozes liderou a campanha antirracista de novembro, intitulada “Consciência para Transformar”. Além disso, promoveu discussões periódicas ao longo do ano sobre os desafios da empresa para estabelecer um pacto antirracista e identificar as soluções necessárias.
Nossa célula de Diversidade, equidade e inclusão, vinculada à área de Sustentabilidade e Impacto da empresa, aprofundou-se no relatório dos 10 anos da Lei de Cotas, produzido pela Box 1824. O estudo revela que, embora o número de pessoas negras nas universidades tenha aumentado significativamente, o ingresso dessa população no mercado de trabalho ainda apresenta grande desigualdade. Enquanto 52% dos egressos brancos conseguem emprego formal logo após a graduação, apenas 35% dos egressos negros alcançam o mesmo resultado. Esse desequilíbrio evidencia uma barreira estrutural que vai além da educação e reflete o racismo sistêmico.
Nesse contexto, apresentamos à liderança, em diversos fóruns de letramento racial, o conceito de branquitude como um elemento crucial para entender a perpetuação dessas desigualdades. Esse conceito refere-se a um conjunto de privilégios inconscientes e históricos atribuídos à população branca, que se beneficia de uma estrutura social e econômica que ainda explora a população negra. Para que o Brasil avance em direção a uma sociedade mais justa e igualitária, é indispensável que as pessoas brancas, majoritariamente presentes nas lideranças das maiores empresa do Brasil e do mundo, assumam a responsabilidade de transformar as estruturas que sustentam esta desigualdade. Isso exige o reconhecimento do papel na perpetuação desses privilégios e ações concretas para desconstruir essas desigualdades.
Nossos aprendizados, somados aos resultados das vagas afirmativas, fóruns de letramento racial, grupo de afinidade e campanha antirracista, nos prepararam para um novo compromisso em 2025: acelerar a carreira de pessoas negras e, na prática, reduzir a disparidade entre pessoas brancas e negras nos cargos de liderança da organização. Além disso, nossas vagas afirmativas passarão a contemplar não apenas analistas, mas também posições de liderança.
Nossa jornada nesses últimos dois anos nos trouxe maior clareza de que a mudança estrutural relacionada ao racismo não é uma tarefa fácil e rápida, mas é essencial para garantir uma empresa e um Brasil mais igualitário. Acreditamos, como parte de um ecossistema, que o comprometimento das empresas deve ser contínuo, por meio de ações que promovam a ampliação da pluralidade, a verdadeira valorização da diversidade, com a eliminação das barreiras raciais nas políticas de promoção e equidade, e a prática da inclusão, pautada no letramento racial de todos os indivíduos que fazem parte da nossa cadeia de valor.
Por Juliana Beretta, Coordenadora de Sustentabilidade e Impacto da Embracon
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GABRIEL MOREIRA VASCONCELLOS DA COSTA PEREIRA
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