Uma qualidade fundamental que exijo das pessoas que vão trabalhar comigo – sejam funcionários, colaboradores ou sócios – é a habilidade de assumir os próprios erros. Gosto desta aptidão, pois ela é a base de uma relação de confiança entre duas pessoas. Ao longo dos meus 30 anos como empresário, eu vi essa competência presente em profissionais muito experientes, mas também em jovens em início de carreira.
Seja um gerente ou estagiário, a capacidade de assumir os próprios erros será sempre vista como um sinal de maturidade. Ela representa a consciência do indivíduo de que todos falham em algum momento da vida, afinal errar é humano. É preciso uma boa dose de coragem para se colocar em uma posição de vulnerabilidade, além de outros talentos como, por exemplo, a comunicação.
Para assumir erros é necessário desenvolver técnicas de comunicação claras e objetivas. De que adianta assumir uma falha e tentar esconder detalhes do problema? Ou ficar de conversa fiada tentando minimizar os danos? Quem cultiva honestidade e transparência na própria fala, colhe credibilidade, ajuda a construir um ambiente de trabalho mais saudável, colaborativo e menos centrado na culpa.
Outra vantagem competitiva que eu percebo no profissional capaz de assumir a responsabilidade pelos seus atos é uma certa mentalidade de crescimento. Trata-se de um indivíduo que está constantemente aceitando desafios para o próprio desenvolvimento pessoal e profissional. Os erros são oportunidades de aprendizado. Voltado para sua evolução constante, este perfil de trabalhador não tem tempo para chorar o leite derramado, por isso enfrenta o erro de forma construtiva, aprimorando também a sua resiliência.
Muita gente que trabalha ou já trabalhou comigo é corajoso para assumir os próprios erros, mas e quando se trata de delatar um colega? E quando a performance de um par está prejudicando o time, a entrega, a experiência do cliente ou a qualidade do produto? Será que, de repente, tudo o que falamos sobre transparência, honestidade, integridade, cai por terra? O que eu vejo é que a maioria das pessoas não consegue “entregar” um companheiro e isso é um problema sério.
Veja um exemplo da aviação: se o piloto comete uma falha de procedimento durante o voo, ele tem a obrigação de notificar o erro. Caso ele não reporte, o copiloto é obrigado a fazer a denúncia. O sistema garante mais segurança para os passageiros e dá oportunidade para o profissional inadequado fazer cursos de reciclagem. Se um acoberta o outro, ninguém ganha no longo prazo, muito menos o integrante da tripulação que está desatualizado.
É difícil para um gestor coordenar os esforços para consertar uma situação quando as pessoas não estão cientes da própria responsabilidade. Toda a eficácia da equipe fica comprometida e é mais difícil prevenir consequências negativas no futuro. Se um erro não for admitido, ele não será corrigido da maneira correta e tornará a acontecer. O resultado é desastroso, pois você sabe bem: errar é humano, mas persistir no erro é burrice.
Você aí do outro lado, cheio de tabus, deve estar pensando: “O Bruno quer que todo mundo vire dedo-duro”. Não é bem assim. Existem técnicas para desenvolver uma cultura colaborativa e tornar o ambiente mais seguro para todos. Quando um colega está enfrentando dificuldades para resolver um problema, gestores e parceiros podem abandonar o tom acusatório e adotar uma postura proativa. Na prática, isso significa trocar o “você errou” por um “vamos trabalhar juntos na solução”.
Além disso, após o diagnóstico do erro, todos devem estar comprometidos com o futuro. Não vale a pena remoer o passado, se não for para criar estratégias para que as mesmas falhas não voltem a acontecer. Talvez seja necessário oferecer treinamentos e recursos, que vão demandar ainda tempo e dinheiro. Mais motivos para não ficar se lamentando e concentrar-se no aprimoramento de processos e do próprio time.
Por fim, depois que um colaborador assume o próprio erro, propõe soluções demonstrando senso de propriedade, engaja na resolução do problema, também é importante reconhecer seu esforço e melhoria, incluindo suas realizações e pontos fortes no feedback. Isso gera um impacto positivo sobre todo time e muda a atmosfera da empresa. Todo mundo sai ganhando, pode confiar.
Bruno Corano é economista, investidor da Corano Capital e apresentador do Manhattan Connection
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NEIDE LIMA MARTINGO PEREIRA
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